segunda-feira, 28 de julho de 2014

Incentivos à natalidade vs vida real

Dizia ontem uma amiga que a licença de maternidade vai aumentar. Que ouviu dizer que seria para um ano pago a 100% e que, nesse caso, iria esperar para que entrasse em vigor para ter o segundo filho. Sim, esperar e não antecipar.
 
Depois de muita discussão em que eu mostrava que aumentar a licença de maternidade vai ter o efeito contrário ao desejado, uma vez que a entidade patronal deixa de ter que substituir a funcionária por 5 meses e passa a ter que a substituir por um ano inteirinho, e que quem passa um ano sem a funcionária, passa sempre. Se passassem para um ano de licença haveria mais despedimentos (no privado) de recém-mamãs que atualmente. E não é um ponto de vista radical, nem umbiguista de uma empresária. É real.
Se eu tenho que passar 5 meses sem um funcionário, vou desenrascar-me, quer seja com um substituto, quer seja com os que ficam. Se ficar "órfã" de funcionário por um ano, não há desenrascanço, há substituição, que pode não ter retorno, porque a funcionária deixou de fazer falta (regra geral).
 
E perguntava-me ela: Mas assim como achas que se estimularia a natalidade?
 
Com a melhoria das condições para as empresas, de forma a incentivar a criação de emprego. Se o emprego não for o pior dos dramas numa casa, mais filhos nascerão.
De que adianta a uma mulher puder estar 12 meses com o seu rebento (que eu acho que seria maravilhoso) e depois ficar desempregada? Os 12 meses em detrimento dos 4/5 são a solução? Iriam fazer mais diferença que o tempo de frustração e dor de perder o ganha-pão que, geralmente, se seguiria? Não me parece.
 
Eu ponderei colocar uma estagiária a fazer parte do meu trabalho enquanto estivesse de licença. Pagaria menos e estaria a dar a oportunidade que eu tive quando acabei o curso. Perguntaram-me se seria para continuar. Disse que, em princípio, não. Mas que, se a empresa melhorasse consideravelmente com o trabalho dela, ficaria. Eu estaria a dar trabalho, ordenado, experiência a quem não terá uma oportunidade tão cedo porque saiu agora da faculdade. Era bom para todos.
O que aconteceu? Cancelaram TODOS os estágios profissionais ainda não iniciados. Já não vem estagiária, os que ficam vão ter mais trabalho, mas a rapariga não vai ter ordenado, nem experiência tão cedo.
 
Uma empresa paga impostos exorbitantes, tem custos surreais por cada funcionário. Só se contrata alguém quando os que cá estão já não conseguem produzir mais. Se fosse mais barato, haveria mais emprego. O que o Estado pouparia em subsídios de desemprego e Rendimentos sociais de inserção, investiria nas empresas. Estas sim, o motor da economia e as impulsionadoras da natalidade.
Se fosse mais barato ter um funcionário a mulher podia ir um ano de licença, ser substituída e podia voltar e ter o seu posto de trabalho certo. Por cada filho nascido, poderia haver a criação de mais um emprego e não a sua extinção. E por cada posto de trabalho há mais um contribuinte e um consumidor. É assim que se estimula a economia e é assim que a natalidade pode aumentar.
 
No final da conversa a minha amiga percebeu que ELA estava a ser umbiguista, porque é funcionária pública e não perderia o emprego por ter uma licença de maternidade que não se ajusta à fraca economia portuguesa.

5 comentários:

Susana Andrade disse...

cada um lê o que quer... Esses incentivos à natalidade não passam de um PROPOSTA que o governo pediu que lhe fizessem para nos atirarem para os olhos... Ninguém diz que vai entrar em vigor, o mnistro aprontou-se logo com só poderá ser exequível SE tivermos dinheiro para tal... A proposta também abrange 'emprestar' um desempregado ás empresas que tenham a falta da funcionário por causa da licença, mas depois vem o eterno problema que existem trabalhos que tu não consegues encontrar pessoas dotadas para o efeito, pois nem todos os trabalhos são tão descartáveis assim como simples empregadas d e balcão ou operadoras de caixa, etc... sem querer ofender ninguém ao simplificar as coisas assim. A tua amiga bem pode esperar sentada e ver os anos passarem-lhe à frente dos olhos. Se fosse pelas regalias nunca tinha engravidado do 1º, o amor por um filho ou mais não se prende com o dinheiro ou regalias que se irá receber por os termos, mas se tornarem a vida das famílias mais simplificadas não vejo porque não se atribuam regalias. ter 1 filho em idade escola acarreta muitas despesas, encargos com saúde e afins, com mais do que 1 o orçamento familiar é o mesmo mas são mais para o gastar e convenhamos mas os ordenados médios não chegam nem para pagar um aluguer de uma casa quanto mais para conseguir pagar creches e outras despesas que existem quando os pais têm um trabalho da manhã à tardinha... nem todos têm avós ou familiares dispostos a tomar conta de crianças pequenas.... e poderia alongar-me mais...

Susana Andrade disse...

Ah, estas são as propostas do governo: http://observador.pt/2014/07/15/comissao-propoe-ao-governo-medidas-por-um-portugal-amigo-das-criancas/

Ana disse...

Eu defendo que ter filhos depende de nós. Obviamente, não é sensato pensar em ter filhos em situações de desemprego, mas com emprego, com vontade de trabalhar e com muito espirito de sacrifício, todos poderíamos ter mais filhos. A minha amiga preocupa-se se tem dinheiro para comprar roupa de marca para o filho, eu preocupo-me em dar um irmão ao meu!

Susana Andrade disse...

Não é sensato pensar em filhos quando se está desempregado mas nenhum trabalho é garantido, nem mesmo na função publica, existem várias formas de se 'castigar' alguém pela opção que fez em engravidar mesmo trabalhando. pensei em ter filhos quando estive desempregada durante 1 ano, quando encontrei trabalho, engravidei... e foi tudo tão em cima do tempo de experiência/formação que preferi por à frente a minha segurança e da do bebé em avisar a entidade patronal da minha situação já que o trabalho que fazia requeria não poder fazer determinadas funções. ganhei um contrato com termo quando o que me tinham dito e a todos os meus colegas (com quem já tinha trabalho noutros anos)que iria ser sem termo apenas o meu... agradeço todos os dias da minha vida desde então de estar desempregada a cuidar dos meus mas ambiciono voltar ao mundo do trabalho porque não penso ter mais filhos. O mais velho vai prá pré para o ano e este que está para nascer vai seguir o mesmo caminho que o mano teve, em casa, comigo, sem pressões de chefes quando os nossos filhos adoecem, sem a dúvida do que fazer com eles no verão, já que era no verão que eu mais trabalhava... e muito mal paga... dependemos do pai que é técnico superior com muito mérito, que gosta do que faz e que na mesma tem muito tempo para nós. Estica-se o lençol à nossa medida e enquanto der para esticar sem ficar com os pés de fora assim será... Não entendas este meu comentário como achando-me 'insultada' pelo que dizes mas felizmente existem muitas formas de viver a vida mais ou menos sensatas para mim mas que para ti não o são ;o)

Ana disse...

Eu compreendi a tua situação. Felizmente o vosso agregado familiar consegue ser suportado por apenas um. Eu referia-me a casais em que os dois vivem o desemprego ou o ordenado que existe é tão curto que não dá para sustentar a família.

Eu acho que cada um vive como pode e sabe, uns com mais, outros com menos. Para mim é mais importante aumentar a família do que vestir os meus filhos só com roupa de marca, mas sei e aceito que haja quem pense ao contrário.