Acabei de ter uma experiência "Ratatui".
A minha avó paterna vendia fruta no mercado da aldeia. O meu avô ia buscar a fruta fresquinha e ela tinha uma banca. Eu teria uns 4/5 anos e ia visitá-la. A banca dela era a da entrada, posição privilegiada ganha por antiguidade. Eu ia, estava com ela, admirava-a. Era pequenina e muito gorda. Não chegava com os pés ao chão quando estava sentada numa cadeira de tamanho normal. Rodava os polegares um pelo outro e abanava os pés, que estavam no ar. Era simpática. Era analfabeta. Mas vendia no mercado e fazia contas de somar como ninguém, com os números esquisitos que a vida a ensinou a fazer. Sentia uma admiração e uma empatia por ela que não conseguia explicar. Tinha outra avó, com quem estava mais vezes e que chegou a viver comigo, mas aquela era a minha avó.
Havia bancas de peixe, talhos, outras bancas de fruta, burburinho, movimento, vida. E um cheiro.
Fui agora visitar uma nova cliente que tem uma pequena mercearia dentro de um mercado local. Quando entrei no mercado fui tomada por Aquele cheiro. Os meus sentidos explodiram de emoção, as lágrimas encheram-me os olhos. Voltei 24 anos atrás e vi-me, pequenina, a chegar ao mercado e a vê-la sentada, de pés a abanar no ar, polegares a brincar naquela roda engraçada, a admirá-la mais uma vez. A minha avó. Aquela que dizem que eu pareço, mas que nada tenho em comum. Aquela que me fascinava e me fascina ainda hoje. Aquela que já não está, nem na banca do mercado, nem na cadeira de pés a abanar. Mas está no meu coração e na minha memória. E hoje, à bocadinho, esteve à minha frente.
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