Às vezes sinto-me estúpida, anulada. A minha vida está preenchida por tão pouco.
Trabalho das 8.30h às 17h, o que poderia ser um horário excelente, não fosse levar 45min de caminho para o trabalho. Ou seja, levanto-me às 7 da matina, e chego à creche às 18h para apanhar o Afonso, cansada e sem vontade de nada. Entre banhos, mimos, cozinhados, jantares, deitar miúdo, chegam as 23h e estou a dormir...
Ao fim de semana trabalho, pelo menos um dia, durante umas horas. Mas com a viagem para ir e voltar, está meio dia perdido. O resto de tempo é passado sem dar conta, com arrumações, roupas para cuidar, uma casa para organizar.
Passam os dias sem que eu dê por eles.
Sinto-me preenchida a nível profissional, ao contrário do que sentia quando as coisas estavam na rua da amargura, sinto-me uma sortuda por ter a família que tenho, cheia de amor e uma união à prova de tudo (até de trabalhar com o marido...), mas falta-me a realização pessoal, enquanto mulher, indivíduo.
Não vou ao ginásio, correr ou dançar à frente do espelho há uma centena de anos, não tenho tempo para depilações, manicures, cortes e arranjos de cabelo, compras e passeios. Não me mimo, não tenho tempo sozinha, não ponho cremes no corpo nem sequer na cara, porque não tempo paciência nem grande tempo.
O facto de deixar o Afonso na creche tantas horas deixa-me com a consciência pesada se trocar o pouco tempo que tenho para estar com ele por tempo para mim. E o marido também precisa de tempo para ele... e não tem.
Estou prestes a fazer mais um aniversário e não o vou comemorar como fazia. Não tenho tempo, nem paciência.
Não sei se é uma situação temporária ou se me estou a tornar numa mulher que faz tudo menos cuidar de si. Eu não quero isso, mas não sei como mudar. Não tenho tempo.