Estou grávida, em início de tempo, tenho o marido imobilizado e sem puder fazer nada, tenho uma fábrica para gerir e ninguém que me ajude. Todos olham para o lado e disfarçam quando me vêem aflita. Todos me perguntam se preciso de alguma coisa, mas ninguém faz nada quando vêem que não consigo fazer tudo sozinha. Tenho todo o apoio do mundo nas palavras dos outros, mas nenhum nas suas acções. Tenho a lida da casa para fazer, tenho que fazer as coisas mais básicas ao marido, como ajudá-lo a tomar banho e a vestir-se, a dar-lhe a comida e a pô-lo confortável. Tenho que fazer coisas que nunca fiz, como despejar lixo, tarefa sempre do marido. Tenho que ir às compras sozinha, carregá-las para casa, levantar pesos, de garrafões de água a cadeiras e bancos para sentar as visitas (que têm sido muitas), tenho que fazer 50 km para vir trabalhar.
Levanto-me às 7 horas, deixo tudo a postos para o marido comer, saio do trabalho às 17 e chego a casa quase às 18. Chego a casa e faço comida, lavo roupa, passo a ferro, não paro até ir para a cama, deito-me cheia de dores de costas e de barriga, dormo mal porque tive que mudar de lado da cama e não me sinto confortável, levanto-me durante a noite para ir à casa de banho, levanto-me outra vez à 7. Passo o dia de coração nas mãos porque já vi o marido escorregar outras vezes com as muletas e ter que segurá-lo, sei que ele não tem força na perna esquerda e que não pode, de maneira nenhuma, pousar a direita. Sei que ele precisa de mim para tudo e que passa o dia mal por eu não estar com ele. Sei que eu preciso de descansar, que tenho o meu bebé a crescer e que precisa de conforto, calma e tranquilidade. Mas tenho uma empresa para gerir, pessoas para gerir, contas para pagar, clientes para visitar, telefonemas para fazer e ninguém para ajudar.
Era o marido que ajudava, agora estou sozinha e esgotada.