Antes do Afonso nascer eu já era mãe.
No dia 21 de Agosto de 2008 nasceu o meu primeiro filho. Senti as dores apenas no coração enquanto a minha irmã sofria no corpo. Esperei muito tempo, acordada, agarrada ao telemóvel, à espera do sinal para pegar no carro e fazer os duzentos e tal quilómetros que me separavam do meu filho, apesar da carta recente e da pouca experiência de condução.
Quando cheguei amei-o logo, como só se ama a um filho. Eu já sabia que aquele era o meu afilhado há muitos meses, sabia que queria ser mesmo a segunda mãe dele, mas não sabia como era tê-lo nos braços, tocar-lhe, cheirá-lo.
Durante os primeiros meses do Francisco estive tão presente quanto possível. E, felizmente, foi muito. O meu marido, namorado na altura, seria o padrinho. Tornámo-nos pais em segundo grau. Aprendemos a cuidar dele, desde manhã à noite. A dormir com ele, a dar-lhe leitinho e colinho. A mudar fraldas, a dar-lhe banho. A fazer-lhe cocegas e a dar-lhe beijinhos como se dá a um filho. A amá-lo cada vez mais.
O Francisco foi crescendo e foi-se tornando nosso filho. A sentir-se nosso filho. Perdi a conta das vezes que ele me chamou mãe, das vez que correu para o meu colo por ter medo de alguma coisa. Para ele nós somos mesmo os segundos pais. Padrinhos, no verdadeiro sentido da palavra.
Quando o Afonso nasceu tudo mudou. Eu deixei de ter tempo e disponibilidade para o Francisco. Eu passei a ser mãe de corpo e alma, e não só de alma. Mas o Francisco, com quatro anos, soube esperar, soube ser o melhor primo do mundo, o melhor afilhado que se pode ter. E esperou. Esperou que o meu coração voltasse a abrir para os outros que não o meu filho. Hoje o Afonso sabe que tem um irmão mais velho, aquele com quem partilha, com quem aprende, a quem dá abraços e beijos sem serem pedidos.
Digo muitas vezes, na brincadeira, que o Francisco é o meu filho mais velho. Mas, na verdade, é.
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